Escolhemos a imagem acima e respectiva legenda para neste dia, em detrimento dos tradicionais presépios, árvores de Natal ou outras quaisquer iconografias relativas à quadra porque, diáspora, esse substantivo feminino, que num qualquer dicionário de língua portuguesa significa a dispersão de um povo ou de alguns dos seus elementos de uma comunidade e que, repare-se na ironia, se reúnem neste dia ou na noite do dia 24.
Mas a escolha da palavra diáspora, não foi inocente, não por ser uma "palavra de sete e quinhentos", vulgarmente conhecida por palavra cara, como em tempos de antanho se referiam a termos menos utilizados no linguajar comum.
Diáspora foi palavra adequada para a mensagem que escolhemos para passar, para que, em conjunto com aqueles que cá vivem e com os demais Pereirenses que estão espalhados pelas quatro partidas do Mundo, mutuamente, encontremos um futuro diferente para a nossa Vila, sem opacidades, sem nebulosas, nem truques de algibeira, cartas na manga ou silêncios comprometidos ou comprados.
Queremos uma Vila onde o cinismo e a palmadinha nas costas sejam abolidas, em definitivo e, olhos nos olhos, possamos falar com verdade, falar de futuro, sem criar falsos e frágeis pedestais, quais câmaras amplificadoras de alguns egos (esgotadíssimos, outros fora de prazo), egos esses imbuídos numa cegueira cultural e ideológica, com fortes laivos medievais atrozes.
Depois, andamos a chorar sobre o leite derramado, abominando a nossa má sorte, a nossa má localização geográfica (amaldiçoada margem esquerda!) mas, é tão recorrente, quiçá, o nosso handicap, mas às vezes somos nós que nos pomos a jeito, somos nós que procuramos a dita má sorte, porque a cultura, o tacto, a diplomacia e algumas das elementares regras de uma sociedade livre e democrática, ficaram lá trás, foram apagadas da memória de uma enorme fatia da nossa população outras, pura e simplesmente, foram subvertidas.
Estamos no nosso de fim de linha social, num abismo atroz, parecemos ter regressado à idade das trevas.
Às referências da gente, da movida dos anos 80 e 90 - duas décadas, cujo seu brilhantismo está gravado com letras douradas no livro de história da nossa Vila - sucederam-se meia-dúzia de imberbes, de gente sedenta de poder, sem formação cívica e cultural, sem perceber das tarefas hercúleas que a Vila precisava, dos enormíssimos desafios que se lhe deparavam, sobretudo na viragem do século, empurrando, cada qual, com o seu umbigo, à sua maneira, com egos sobredimensionados, derivado a fermentos socioculturais, outros económicos, balofos e putrefactos.
Hei-nos, passados 14 anos, chegados ao fim de linha.
Estamos abaixo de limiar do razoável, do aceitável, do perdoável.
Somos alvo de chacota, propiciamos risinhos e comentários depreciativos, jocosos.
Somos, que nos perdoem os mais sensíveis, os bobos do concelho!
Querem só um exemplo do nosso fim de linha?
Há quantos anos acabou o Chupa-Chupa?
Há quantos anos, alguns profetas, nos prometem o seu regresso?
Leitura recomendada:
A Cultura: uma alavanca para o desenvolvimento local
Por Bernard Kayser
“As diferenças entre regiões, localidades, aldeias, entre gerações é entre grupos sociais são sobretudo diferenças culturais. Em vez de procurar esquecê-las, ou deixá-las esquecer, não será melhor procurar afirmá-las e promovê-las? É preciso deixar de considerar o desenvolvimento cultural como um luxo supérfulo e reconhecê-lo como um motor do desenvolvimento económico e social.”
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